Na dourada aurora quando o mundo roda ruidosamente, o som da manhã desperta como para mim os lábios da tua boca, húmidos e quentes como húmus. Vê, o vento acalmou tens as coxas frias vira-te para mim como se chorasses. Sonha comigo assassinamos o tempo e ficamos assim neste prenúncio de orgasmo sempiterno.
Os figos da Primavera choram mel pelo fel amargado que lagrimo quando me venho sem avisar e me agarro a ti para me prender à felicidade presente em fuga das memórias que correm mais que eu e nunca se cansam.
Basta que estendas o braço mão na mão agrilhoados a brisa do mar apanha-nos de perfil sobra as mós da roda que nos eterniza inferniza jugulando como presas que se vão apagando despedindo-se desta piada de mau gosto às quais sem saber porquê gostava de pedir desculpa enregelado entre os dentes que tiritam, e amigos e conhecidos regurgitam sombras que se desfazem contra rochas de hábitos.
Diz-me, vais lá estar?
Ajuda-me salvando-me a mim de mim a quem não consigo escapar, é no quente do teu rosto aninhado no âmago do teu mosto que quero estar.
Entre este rio e o mar do lado esquerdo do meu peito mora um sobreiro manso que todas as manhãs vence a cacimba, um dia nossos pecados se acharão à sombra de um cutelo padrasto, na última exalação de um moribundo valiosa valiosa tremenda mágoa.
21 de agosto de 2011
13 de agosto de 2011
Precários preçarios proletários I - PULL & BEAR
Sapatilhas do chinês
em pequenos pés de finas meias encardidas
saco de plástico machucado pelo chão
perto dos frágeis tornozelos a sandes
em guardanapo de papel amarrotado
naquele canto a jovem sustenta o corpo
escondida da loja.
em pequenos pés de finas meias encardidas
saco de plástico machucado pelo chão
perto dos frágeis tornozelos a sandes
em guardanapo de papel amarrotado
naquele canto a jovem sustenta o corpo
escondida da loja.
1 de junho de 2010
Norte
Sentado na beira olhando a vela
Sinto a minha mão quente da dela
O Douro respira de encontro ao mar
Era ali que queria ser, que queria estar
Há aqui tanto de mim
Há aqui tanto de mim
Malditos aqueles que desmancham
partindo cindindo o que não entendem
sinto a minha mão quente da dela
sentado na beira olhando a vela
Prenhe de pensares que se arranjam
arrepios de amor pelo meu país nascem
O Douro respira de encontro ao mar
em mais algum sítio queria estar
Triste e perdido no seu serpentear
Desde tudo o que aconteceu
Nada mais há por semear
este é o meu pais onde moro
este é o meu país onde moro
Há aqui tanto de mim
Quero-vos tanto a ela e ao meu país
Não é possível viver querendo assim
No coração o sangue dela serpenteia como Douro
veneno agri doce aroma de aniz.
27 de maio de 2010
Caves
Em Gaia mirava mas o Sol fugido havia, restou-me olhar o complacente arrastar do rio para a curva da foz.
Chão de pedra atapetado, arrastava-se sobre os meus pés.
Grandes testemunhos de tempos e outras vidas sob as fachadas de edifícios velhos, bonitos e devolutos, anónimas carcaças de vidas que já estão faz muito tempo no ocaso.
Que vale a vida de um homem ou de uma mulher, em cuja única promessa irónica de imortalidade reside em deixar uns filhos?
No Porto não é a luz que manda, mas a superfície das coisas que os homens fizeram.
Tempo aprisionado nas coisas antigas que por lá vimos, incluso nas vestimentas dos velhos amantes de homens tomando cimbalinos de manhã ao pé da Cadeia da Relação.
Todas as vidas e pormenores que se revelam saindo de caves onde draculeamente descansam até à chegada do olhar atento.
Ali jaz o meu país.
Por todo o lado turistas capturam memórias em forma de instantes fotográficos para mais tarde recordar, levando tembém eles as carcaças para casa, do tempo que já passou.
Vale a vida de um homem ou de uma mulher, ser a testemunha passiva do tempo que se arrasta à sua frente, como um rio indómito à espera que chegues à tua foz?
Chão de pedra atapetado, arrastava-se sobre os meus pés.
Grandes testemunhos de tempos e outras vidas sob as fachadas de edifícios velhos, bonitos e devolutos, anónimas carcaças de vidas que já estão faz muito tempo no ocaso.
Que vale a vida de um homem ou de uma mulher, em cuja única promessa irónica de imortalidade reside em deixar uns filhos?
No Porto não é a luz que manda, mas a superfície das coisas que os homens fizeram.
Tempo aprisionado nas coisas antigas que por lá vimos, incluso nas vestimentas dos velhos amantes de homens tomando cimbalinos de manhã ao pé da Cadeia da Relação.
Todas as vidas e pormenores que se revelam saindo de caves onde draculeamente descansam até à chegada do olhar atento.
Ali jaz o meu país.
Por todo o lado turistas capturam memórias em forma de instantes fotográficos para mais tarde recordar, levando tembém eles as carcaças para casa, do tempo que já passou.
Vale a vida de um homem ou de uma mulher, ser a testemunha passiva do tempo que se arrasta à sua frente, como um rio indómito à espera que chegues à tua foz?
23 de julho de 2007
Umbigo
Ao senhor José Maria Vieira Mendes
(obrigado por não me dar alhos)
Gosto de estar bem no meio do redemoinho . A primeira vez que aceleraram o carrossel , vomitei . Acho que não gostei de ver os pontos que os meus olhos fixavam , fugir e fitarem-me como a miudagem traquina , com a qual às vezes jogo na estrada. Gosto imenso de passar naquelas portas giratórias que giram mais nos filmes , mas por cá alguns hotéis já aderiram à deliciosa modernice. E não sou o único. Alguns amigos meus acompanham-me , e então é que é giro o girar da porta , aos quatro e aos cinco empurrando uma porta , como os marinheiros empurram aquelas coisas muito engraçadas que fazem levantar as âncoras das fragatas.
Mas fecho-me às paixonites ... Não quero a cabeça a andar à roda...
O mais que faço é sonhar com balões e com o Jardim Zoológico e com o sonho que tive quando estive quase a morrer , no dia em que fui dar uma volta de cacilheiro até à outra banda , para ver se enchia a memória de plaquetas e glóbulos vermelhos para dar sangue ao vampiro , e estive quase a morrer porque caí ao malagueiro , e eis que coisa nunca vista , ali no Mar da Palha a água dançou um vórtice para mim , e eu pari uma espiral , que hoje só de me lembrar , acossa-me a ciática.
Entrevistei uma aspirina que ouvi na rádio , e ... não ... não ... isto dá muitas voltas à cabeça...
Quando me masturbo olho avidamente para o espelho , como me observo , para depois sonhar e inventar e escrever.
E faço coisas tão giras com a mão . Todo o meu ivaginário gira à volta (como aquelas portas giratórias que giram mais nos filmes ) das minhas doenças , maleitas incarnadas em solilóquios barrocos e a demagógica e mimada revolucionarite aguda.
Visto revoluções e bonecas com vestidos engraçados , sou a imensa montanha , guardada por montes míopes que se sodomizam com a sua pseudo-cultura , e se assustam com a própria sombra ... e feitos de barro e de pelos de barba mal semeada , ornados de cabelos compridos e recortes de jornais como troféus nas mãos dos aborígenes que lhes povoam as guedelhas ... São os meus ratos.
Falo de tudo como se estivesse de fora . E sou genial.
Venho do genital e vou para o genial , e é muito mais que aquilo que o Bocage faz , respirando para o cano de uma pistola.
Divirto-me imensérrimo com a loucura e com os interruptores disfarçados destas realidades que vou pintando.
O que sempre tenho feito é olhar para o meu umbiguinho e decorá-lo de lago , boca , mistério astronómico , vagina , olho , telescópio ... E faço-o exortanto aos crocodilos , e nenhum dos nossos ídolos é destruído pelos martelos da carneirada.
Mas pistola , pistola ... é o meu dedo , prolixo indicador de vampiro , pois que tudo é sangue e eu vivo fora dos homens para falar deles.
Em honra de quê? Em honra de quem?
Mato-me e faço-me a cada momento em que me escrevo , e único sofrimento a que me abro é o de girar à minha volta , como pião , peão , caravela quinhentista , bebedeiras de azul ... ando às voltas por Lisboa para contar histórias lá na terra , sou veículo de mundos , mas que mundos são estes ?Alternativos enquanto não reais?
É que misturo as coisas e desconfio dos cowboys porque faço muitos filmes .
Mas tudo isto dá muitas voltas à cabeça.
Parece que retiro o sal do banal , mas de que forma o uso para o tempero?
É tão espantoso olhar para o eu helicoidal , e andar à roda...
À volta do meu umbigo.
(obrigado por não me dar alhos)
Gosto de estar bem no meio do redemoinho . A primeira vez que aceleraram o carrossel , vomitei . Acho que não gostei de ver os pontos que os meus olhos fixavam , fugir e fitarem-me como a miudagem traquina , com a qual às vezes jogo na estrada. Gosto imenso de passar naquelas portas giratórias que giram mais nos filmes , mas por cá alguns hotéis já aderiram à deliciosa modernice. E não sou o único. Alguns amigos meus acompanham-me , e então é que é giro o girar da porta , aos quatro e aos cinco empurrando uma porta , como os marinheiros empurram aquelas coisas muito engraçadas que fazem levantar as âncoras das fragatas.
Mas fecho-me às paixonites ... Não quero a cabeça a andar à roda...
O mais que faço é sonhar com balões e com o Jardim Zoológico e com o sonho que tive quando estive quase a morrer , no dia em que fui dar uma volta de cacilheiro até à outra banda , para ver se enchia a memória de plaquetas e glóbulos vermelhos para dar sangue ao vampiro , e estive quase a morrer porque caí ao malagueiro , e eis que coisa nunca vista , ali no Mar da Palha a água dançou um vórtice para mim , e eu pari uma espiral , que hoje só de me lembrar , acossa-me a ciática.
Entrevistei uma aspirina que ouvi na rádio , e ... não ... não ... isto dá muitas voltas à cabeça...
Quando me masturbo olho avidamente para o espelho , como me observo , para depois sonhar e inventar e escrever.
E faço coisas tão giras com a mão . Todo o meu ivaginário gira à volta (como aquelas portas giratórias que giram mais nos filmes ) das minhas doenças , maleitas incarnadas em solilóquios barrocos e a demagógica e mimada revolucionarite aguda.
Visto revoluções e bonecas com vestidos engraçados , sou a imensa montanha , guardada por montes míopes que se sodomizam com a sua pseudo-cultura , e se assustam com a própria sombra ... e feitos de barro e de pelos de barba mal semeada , ornados de cabelos compridos e recortes de jornais como troféus nas mãos dos aborígenes que lhes povoam as guedelhas ... São os meus ratos.
Falo de tudo como se estivesse de fora . E sou genial.
Venho do genital e vou para o genial , e é muito mais que aquilo que o Bocage faz , respirando para o cano de uma pistola.
Divirto-me imensérrimo com a loucura e com os interruptores disfarçados destas realidades que vou pintando.
O que sempre tenho feito é olhar para o meu umbiguinho e decorá-lo de lago , boca , mistério astronómico , vagina , olho , telescópio ... E faço-o exortanto aos crocodilos , e nenhum dos nossos ídolos é destruído pelos martelos da carneirada.
Mas pistola , pistola ... é o meu dedo , prolixo indicador de vampiro , pois que tudo é sangue e eu vivo fora dos homens para falar deles.
Em honra de quê? Em honra de quem?
Mato-me e faço-me a cada momento em que me escrevo , e único sofrimento a que me abro é o de girar à minha volta , como pião , peão , caravela quinhentista , bebedeiras de azul ... ando às voltas por Lisboa para contar histórias lá na terra , sou veículo de mundos , mas que mundos são estes ?Alternativos enquanto não reais?
É que misturo as coisas e desconfio dos cowboys porque faço muitos filmes .
Mas tudo isto dá muitas voltas à cabeça.
Parece que retiro o sal do banal , mas de que forma o uso para o tempero?
É tão espantoso olhar para o eu helicoidal , e andar à roda...
À volta do meu umbigo.
Um medo enrugado
No chiado borboletam sempre mulheres bonitas. As flores em que poisam são as próprias recordações que parasitam o berço. Que coisa maravilhosa olhar para trás de uma montra e trocar de corpo com o manequim...Trocar de corpo é um modo de dizer. O manequim não tem corpo para trocar . Ainda sentes o mesmo ? Achas que eras mais bonita se fosses aquele mimetismo de corpo que segura trapos que morrem como as estações ? Deixei-te um gosto amargo na boca ? Não tens amor e queres que vá sem ele? O perdão abocanha os perdões de que não me lembro e estás sempre tão calada que penso que me ignoras de propósito . E nem sei o teu nome , nunca mo murmuraste.
O único suspiro que me comunica é o do tom alvo da tua pele.
Espera vou-me um bocado embora que o teu patrão vem aí...Venho já.
...
Foi jantar. Acho que ele sente algo por ti .Porque me chama louco e bate-me , e solta a polícia atrás de mim? Não suporto vê-lo tocar-te. Desnudar-te aqui na montra à vista de todos , ao pé da porta...Podes ficar doentinha , sabias? Não respondes? Sabes que tenho razão não é ? Porque seguras sempre as ancas ? Não sabes que elas são a terra fértil dos sonhos dos homens? Eu pelo menos já dormi ao relento em frente aqui da loja a olhar para ti. A olhar é um modo de dizer. A dormir não se vê nada , sonha-se não é?
Não gosto muito desse vestido laranja que trazes hoje...Prefiro aquele cor de papoila que usaste à dois anos . Quando te vi com ele até parei...Sinceramente que parei ... A Filipa , lembras-te dela ? era a minha namorada então até se zangou comigo , e olha foi por isso que nos separámos . Eu já sabia que era a ti que eu queria...Não respondes ?
Deixa , eu sei que estás envergonhada. Envergonhado fiquei eu quando o homenzinho que dorme ali na loja dos sapatos , passou por mim , ainda ontem à noite e me disse: «- É só amor !!!Olha que essa parte corações!!!»
Fico corado e tudo quando descobrem algo assim , tão meu...
É como se ficasse nu , como ás vezes ficas , quando o malvado do teu patrão não te veste , e eu choro tanto por estares a noite toda despidinha aí dentro da loja , e eu aqui no bem bom à chuva...
O único suspiro que me comunica é o do tom alvo da tua pele.
Espera vou-me um bocado embora que o teu patrão vem aí...Venho já.
...
Foi jantar. Acho que ele sente algo por ti .Porque me chama louco e bate-me , e solta a polícia atrás de mim? Não suporto vê-lo tocar-te. Desnudar-te aqui na montra à vista de todos , ao pé da porta...Podes ficar doentinha , sabias? Não respondes? Sabes que tenho razão não é ? Porque seguras sempre as ancas ? Não sabes que elas são a terra fértil dos sonhos dos homens? Eu pelo menos já dormi ao relento em frente aqui da loja a olhar para ti. A olhar é um modo de dizer. A dormir não se vê nada , sonha-se não é?
Não gosto muito desse vestido laranja que trazes hoje...Prefiro aquele cor de papoila que usaste à dois anos . Quando te vi com ele até parei...Sinceramente que parei ... A Filipa , lembras-te dela ? era a minha namorada então até se zangou comigo , e olha foi por isso que nos separámos . Eu já sabia que era a ti que eu queria...Não respondes ?
Deixa , eu sei que estás envergonhada. Envergonhado fiquei eu quando o homenzinho que dorme ali na loja dos sapatos , passou por mim , ainda ontem à noite e me disse: «- É só amor !!!Olha que essa parte corações!!!»
Fico corado e tudo quando descobrem algo assim , tão meu...
É como se ficasse nu , como ás vezes ficas , quando o malvado do teu patrão não te veste , e eu choro tanto por estares a noite toda despidinha aí dentro da loja , e eu aqui no bem bom à chuva...
Síndroma de
«Estava a olhar para os teus olhos e perdi-me .Perdi-me no abraço que não te dei e nem a bússola que escondo no armário me indica de onde virá o próximo amor. Vi o riso que forçavas a cara a ter .»
Eram 21:00.Estava farto de espreitar pelos corredores.
Berrei para o meu fazedor para me meter noutro lado...Numa discoteca em ladies night .Ele ao invés lá bailou a sua caneta vomitando aquela tinta que me faz, e voltou a sentar-me com uma perna cruzada , vejam bem. Marta lá estava ela , entregava-se ao caderno com uma fúria inaudita. O meu escritor , se tivesse metade daquela paixão e eu seria muito mais ornado e profundo. Mas não , o tipo é um desgostoso com a vida , e como não tem mulher , filhos , nem cão ,vem chorar para o meu ombro como se eu o pudesse ajudar...É um sanguessuga...Vive à custa da minha vida , maldito pedinte. E nem sabe fazer histórias espectaculares em que eu me divirta. Mete-me a expiar alguém que desconfio que o traz pelo beicinho. Mas aquela ?A bem dizer é girinha...Mas está-se a borrifar para a existência dele. Este gajo é um totó de primeira. Para completar a pintura só faltam os dentes à ratinho e os óculos à fundo de garrafa. Anda sempre por aí a passear com ar de confiante , quando se borra até quando grito com ele...
Só lhe admiro uma coisa...É sempre do contra...E é tão fácil enganá-lo...Basta dizer o contrário daquilo que queremos que ele faça.
Eu queria era ver a Marta , ela é linda , linda .Se ele não fosse tão atado , já lhe teria dado uns beijos...Pronto já se zangou e colocou-me agora sentado num banco de jardim na Estrela. Daqui vejo o chapéu da dita cuja Basílica .Aquilo deve magoar o céu...Ter assim uma coisa espetada na pele. E além do mais escreveram-me sempre como sendo de boas maneiras e qualquer escrevido sabe que apontar é feio. Vejo os gansos a fugir dos putos que os querem apanhar. E aquela velhota que atravessa a estrada à pressa para fugir do balão de água que um miúdo já lhe atirou.
Agora estou a andar e vou apanhar o eléctrico. Parece um carrinho de choque a fazer as curvas.
Mas eu não quero estar aqui. Leva-me para a praia .Quero ouvir o mar.
Este tipo às vezes mete-me nojo. Deve pensar que não tenho vontade própria...Olha lá quem és tu para me expores? Alguma vez me perguntas-te se podias mostrar a minha vida para os outros verem?
Não tenho direito à privacidade , ó voyeur de trazer por casa??!! Nem criador és , usas-me sempre para te imaginares em mim dizendo à Marta , o que não lhe consegues tu dizer.
És patético...Aí nessa cadeira rota de pele de vaca pintada de vermelho , em frente a uma escrivaninha pequena demais para que os teus braços caibam ao mesmo tempo. Essas calças de ganga com boca de sino para imitar os primeiros tempos das influências dos Metallica , esse cabelo curtinho porque gostas de ter a cabeça fresquinha e para não teres de pentear de manhã...Essas unhas cortadas rente para não te magoares a jogar basquetebol , essa barriga proeminente pela cerveja onde afogas as mágoas , tentando amar a Marta através de mim , e do que de mim vais criando...Estou mais forte e belo que tu...que morres de amores atrás de uma caneta. Toco-lhe mais eu ,com uma letra , que tu com todo o teu corpo em todos os anos que a conheces .Imitas-me , no pavilhão novo quando entras e lembras-te do que é que eu faria em frente a tanta mulher bonita , e ages de acordo com as tuas expectativas , mas ficas muito além de um reflexo meu , eu que julgas como uma invenção tua , um teu reflexo.
Agora sou eu que te escrevo , apanhei-te na minha rede , e de mais forte que sou ,faço –te a ti , decrépito escritor , a minha personagem literária.
Eram 21:00.Estava farto de espreitar pelos corredores.
Berrei para o meu fazedor para me meter noutro lado...Numa discoteca em ladies night .Ele ao invés lá bailou a sua caneta vomitando aquela tinta que me faz, e voltou a sentar-me com uma perna cruzada , vejam bem. Marta lá estava ela , entregava-se ao caderno com uma fúria inaudita. O meu escritor , se tivesse metade daquela paixão e eu seria muito mais ornado e profundo. Mas não , o tipo é um desgostoso com a vida , e como não tem mulher , filhos , nem cão ,vem chorar para o meu ombro como se eu o pudesse ajudar...É um sanguessuga...Vive à custa da minha vida , maldito pedinte. E nem sabe fazer histórias espectaculares em que eu me divirta. Mete-me a expiar alguém que desconfio que o traz pelo beicinho. Mas aquela ?A bem dizer é girinha...Mas está-se a borrifar para a existência dele. Este gajo é um totó de primeira. Para completar a pintura só faltam os dentes à ratinho e os óculos à fundo de garrafa. Anda sempre por aí a passear com ar de confiante , quando se borra até quando grito com ele...
Só lhe admiro uma coisa...É sempre do contra...E é tão fácil enganá-lo...Basta dizer o contrário daquilo que queremos que ele faça.
Eu queria era ver a Marta , ela é linda , linda .Se ele não fosse tão atado , já lhe teria dado uns beijos...Pronto já se zangou e colocou-me agora sentado num banco de jardim na Estrela. Daqui vejo o chapéu da dita cuja Basílica .Aquilo deve magoar o céu...Ter assim uma coisa espetada na pele. E além do mais escreveram-me sempre como sendo de boas maneiras e qualquer escrevido sabe que apontar é feio. Vejo os gansos a fugir dos putos que os querem apanhar. E aquela velhota que atravessa a estrada à pressa para fugir do balão de água que um miúdo já lhe atirou.
Agora estou a andar e vou apanhar o eléctrico. Parece um carrinho de choque a fazer as curvas.
Mas eu não quero estar aqui. Leva-me para a praia .Quero ouvir o mar.
Este tipo às vezes mete-me nojo. Deve pensar que não tenho vontade própria...Olha lá quem és tu para me expores? Alguma vez me perguntas-te se podias mostrar a minha vida para os outros verem?
Não tenho direito à privacidade , ó voyeur de trazer por casa??!! Nem criador és , usas-me sempre para te imaginares em mim dizendo à Marta , o que não lhe consegues tu dizer.
És patético...Aí nessa cadeira rota de pele de vaca pintada de vermelho , em frente a uma escrivaninha pequena demais para que os teus braços caibam ao mesmo tempo. Essas calças de ganga com boca de sino para imitar os primeiros tempos das influências dos Metallica , esse cabelo curtinho porque gostas de ter a cabeça fresquinha e para não teres de pentear de manhã...Essas unhas cortadas rente para não te magoares a jogar basquetebol , essa barriga proeminente pela cerveja onde afogas as mágoas , tentando amar a Marta através de mim , e do que de mim vais criando...Estou mais forte e belo que tu...que morres de amores atrás de uma caneta. Toco-lhe mais eu ,com uma letra , que tu com todo o teu corpo em todos os anos que a conheces .Imitas-me , no pavilhão novo quando entras e lembras-te do que é que eu faria em frente a tanta mulher bonita , e ages de acordo com as tuas expectativas , mas ficas muito além de um reflexo meu , eu que julgas como uma invenção tua , um teu reflexo.
Agora sou eu que te escrevo , apanhei-te na minha rede , e de mais forte que sou ,faço –te a ti , decrépito escritor , a minha personagem literária.
Maria
Que gaita.Não me dizes nada.
E eu se não te vejo ...Se algum elefante se soltar do zoológico...tou tramado , as trombas com que ando ainda me vão fazer passar por elefanta.
Que nóia.Não me ligas , não me vês , nem quando me armo em bom lá naquela prancha alta e me preparo para o salto .Encolho a barriga , mas o paiol da cerveja e da sopa não tem nada de tímido .A maior parte das vezes escorrego , pois com uma barriga destas quem é que consegue ver o chão?
Até ás vezes passo vegonhas nos urinóis , a tentar ver o... pois , o ... dou com cada cabeçada na parede que pensam que sou maluquinho.E sou.
Sou maluquinho pelo teu sorriso.Tens o sorriso mais lindo que conheço.
E as bebedeiras...Minha nossa...cada figura...Ás tantas da noite no Bairro a chamar por ti , e ou me dizem :«-Ó filho , por Dez notas de conto até me podes chamar Blimunda , ou imunda!!!» , ou «-Vai curá-la !»
Não me posso curar quando ao mesmo tempo és a doença e a cura.Como podes ser coisas completamente diferentes sendo o que és?
Porque és a Maria , e és infinita , porque eu sei.Como?Porque já te vi rir.
Da outra vez estava ao espelho a fazer a barba e de repente a tua cara apareceu no lugar da minha.
Que susto e alegria!Vêr o rosto mais bonito da FLUL e arredores no meu espelho , á minha frente , estive para dar um beijo , mas quanto mais me aproximava , mais ele se desvanecia , decidi beijar-te de repente , mas com a fussanguice o tapete da casa de banho fugiu-me debaixo dos pés e bati com o queixo no lavatório.Levantei-me logo de seguida e quando olhei já não estavas lá...Porra , quem me mandou a mim ser lambão?
Pensei que estava a dar em louco , mas não , a mudança não acontecia do real para o real , uma vez que tens sido a minha realidade , sei lá à quanto tempo...Nem dei por ela , tal como só dei com o queixo a sangrar quando deixei de ver o teu rosto no espelho.
Que nóia , antes não me comovia com novelas , agora até o horóscopo da MARIA vejo.Por causa do nome e para ver a conjunção...Conjunção da tanga , quando diz que a nível sentimental vai ser um bom dia , levo uma cotovelada no olho a jogar basquet , e compreendo o significado encriptado através do muito que sinto que até está inchado.
Quando diz que conheçerei novas pessoas , dou graças aos céus por ter a esperança ilusória(que sei sempre que é )de te tirar de mim...E o que é que ficava?Nada ficava vazio sem o teu sorriso...Como sinto agora a barriga , vazia , sem nada para digerir , aqui em frente ao computador da AE , onde me apercebo que se não te digerir morro.
Como?Como?Se és tu que me digeres , grama a grama , embora não me grames , mas até os cães tem sorte , e a mim não me falta pêlo apesar de ser peixe.
Caramba , Maria já comi todos os peixões do lago , já fui para a tua piscina vêr-te nadar , mas algo estranho aconteceu , nadava contente olhando o movimento subtil do teu corpo , quando dei por mim enredado num fato de banho demasiado largo de uma bacana ou bacano , que mais parecia um expositor vivo da Amazónia ...Passei uma semana inteira a cuspir pilosidades...
Mas valeu a pena.Por ti cuspia todas as púbis deste mundo...Maluco ?Não...
Só preso no teu lago.
Ass.:Giovanni not bué fish
E eu se não te vejo ...Se algum elefante se soltar do zoológico...tou tramado , as trombas com que ando ainda me vão fazer passar por elefanta.
Que nóia.Não me ligas , não me vês , nem quando me armo em bom lá naquela prancha alta e me preparo para o salto .Encolho a barriga , mas o paiol da cerveja e da sopa não tem nada de tímido .A maior parte das vezes escorrego , pois com uma barriga destas quem é que consegue ver o chão?
Até ás vezes passo vegonhas nos urinóis , a tentar ver o... pois , o ... dou com cada cabeçada na parede que pensam que sou maluquinho.E sou.
Sou maluquinho pelo teu sorriso.Tens o sorriso mais lindo que conheço.
E as bebedeiras...Minha nossa...cada figura...Ás tantas da noite no Bairro a chamar por ti , e ou me dizem :«-Ó filho , por Dez notas de conto até me podes chamar Blimunda , ou imunda!!!» , ou «-Vai curá-la !»
Não me posso curar quando ao mesmo tempo és a doença e a cura.Como podes ser coisas completamente diferentes sendo o que és?
Porque és a Maria , e és infinita , porque eu sei.Como?Porque já te vi rir.
Da outra vez estava ao espelho a fazer a barba e de repente a tua cara apareceu no lugar da minha.
Que susto e alegria!Vêr o rosto mais bonito da FLUL e arredores no meu espelho , á minha frente , estive para dar um beijo , mas quanto mais me aproximava , mais ele se desvanecia , decidi beijar-te de repente , mas com a fussanguice o tapete da casa de banho fugiu-me debaixo dos pés e bati com o queixo no lavatório.Levantei-me logo de seguida e quando olhei já não estavas lá...Porra , quem me mandou a mim ser lambão?
Pensei que estava a dar em louco , mas não , a mudança não acontecia do real para o real , uma vez que tens sido a minha realidade , sei lá à quanto tempo...Nem dei por ela , tal como só dei com o queixo a sangrar quando deixei de ver o teu rosto no espelho.
Que nóia , antes não me comovia com novelas , agora até o horóscopo da MARIA vejo.Por causa do nome e para ver a conjunção...Conjunção da tanga , quando diz que a nível sentimental vai ser um bom dia , levo uma cotovelada no olho a jogar basquet , e compreendo o significado encriptado através do muito que sinto que até está inchado.
Quando diz que conheçerei novas pessoas , dou graças aos céus por ter a esperança ilusória(que sei sempre que é )de te tirar de mim...E o que é que ficava?Nada ficava vazio sem o teu sorriso...Como sinto agora a barriga , vazia , sem nada para digerir , aqui em frente ao computador da AE , onde me apercebo que se não te digerir morro.
Como?Como?Se és tu que me digeres , grama a grama , embora não me grames , mas até os cães tem sorte , e a mim não me falta pêlo apesar de ser peixe.
Caramba , Maria já comi todos os peixões do lago , já fui para a tua piscina vêr-te nadar , mas algo estranho aconteceu , nadava contente olhando o movimento subtil do teu corpo , quando dei por mim enredado num fato de banho demasiado largo de uma bacana ou bacano , que mais parecia um expositor vivo da Amazónia ...Passei uma semana inteira a cuspir pilosidades...
Mas valeu a pena.Por ti cuspia todas as púbis deste mundo...Maluco ?Não...
Só preso no teu lago.
Ass.:Giovanni not bué fish
Deusa
Diz-me se trabalhas nas dores.
Aguenta e cerra os dentes.Os dentes...
Com o rosto no urinol , e a parede pejada de lascas de osso , o sangue escorre dos beijos que não demos .
Faço força com o punho , como se lesse algo de revolucionário nas expressões do teu rosto quando lês moral.
Na véspera do condenado rezáste a um demiurgo sarcástico com quem praticas coitus a tergo ,e com quem estás a meio caminho de ter um filho , urge então no meio da batalha pedir apoio à Moura encantada que guarda ciosamente as portas do meu túmulo.
Pai Tempo e Mãe Natureza porque violais vossos descendentes?
O fiorde é tão fino e agreste , e enquanto trabalho caprichosamente o bisturí na carne de inocentes , a economia do grito aprofunda o sentido da expressão de alguma indolência social.
Vê bem o rosto hirto e lacrimejanteque se contorna no esforço de exprimir a alma que o violenta.
«-Mantém a fé .», dizem as letras invisíveis na necrofagia dos cadáveres privados de liberdade por uma terra demasiado mole e ensopada em sangue.
Matei-te agora que lês.Mastigo a tua língua como se fosse a pastilha elástica do sádico , e olha como os teus olhos ainda estão abertos ... E como os dentes ainda fazem barulho quando puxo a carne dos teus seios que não te quer abandonar.
Fiz uma pintura em mim com o teu cálido líquido vermelho ...
Como se fosse proibido matar por amor...
Sempre ...Sempre é o nada de quem se arrepende .
O ferro em brasa do desejo em nós , o que nos pendura pelos artelhos e estilhaça os membros , rasgando a carne com sonoros elementos...da cisão, do limbo...
Cortei os teus membros que outrora me abraçavam , e pareces agora , pendurada no gancho do açougueiro um cogumelo atómico desabrochando.
Tíbias , perónios ,linfócitos , como se bolhas de oxigénio se tratassem , (abro agora um senão para aqui no meio nadar contigo ,tu que tens o nome da mãe de Cristo , nestas letras que nunca entenderás...vou então para o teu meio ...vou até ti de bruços e mariposa , numa piscina com água púrpura... mas esquece , esta mensagem vai se perder no tempo e na multidão),e tantas cordas , que são os teus nervos , ligações visíveis ao fantocheiro.
És a guitarra , a harpa , a harpia ...
Instrumento de cordas que uso a tiracolo...
Da tua boca saem cordas que embocam na tua vagina .
Arranco de ti as notas que quero , dedilhando a cabeça de homem que escondes no meio das pernas quentes , debaixo de um pequeno manto de carne.
Tu és culpada ... de tudo o que sou.
Arranquei-te a pele e foi a mim que ardeu.
Admirável o sabre que faz da baioneta pequena adaga nas escamas da mulher horrível que jaz em cima de um molho de ossos humanos , suportando com a sua volúpia a ira de todos os trovões da Terra.
Tem filhos em pequenas poças de água guardadas por sereias com corpo de Quimeras , e o velho Leviathan é agora sonho desaparecido , dando lugar a uma criança com sorriso maléfico , que chuta a sua bola que é a cabeça de uma vitíma.
A pintura completa-se como se fosse um mural para a posterioridade , com o carro do Sol levando-te para cada vez mais perto do Astro-Rei , fazendo teu corpo suar , carregando numa só imagem o desejo de todos os homens de beberem o telúrico que imola as tuas ferormonas.
Posso então pôr-te um dedo na boca , e dizer-me no silêncio das eternas trevas , que o eco e o sol poente são as testemunhas dos nossos falecimentos.
Em memória da Deusa
Aguenta e cerra os dentes.Os dentes...
Com o rosto no urinol , e a parede pejada de lascas de osso , o sangue escorre dos beijos que não demos .
Faço força com o punho , como se lesse algo de revolucionário nas expressões do teu rosto quando lês moral.
Na véspera do condenado rezáste a um demiurgo sarcástico com quem praticas coitus a tergo ,e com quem estás a meio caminho de ter um filho , urge então no meio da batalha pedir apoio à Moura encantada que guarda ciosamente as portas do meu túmulo.
Pai Tempo e Mãe Natureza porque violais vossos descendentes?
O fiorde é tão fino e agreste , e enquanto trabalho caprichosamente o bisturí na carne de inocentes , a economia do grito aprofunda o sentido da expressão de alguma indolência social.
Vê bem o rosto hirto e lacrimejanteque se contorna no esforço de exprimir a alma que o violenta.
«-Mantém a fé .», dizem as letras invisíveis na necrofagia dos cadáveres privados de liberdade por uma terra demasiado mole e ensopada em sangue.
Matei-te agora que lês.Mastigo a tua língua como se fosse a pastilha elástica do sádico , e olha como os teus olhos ainda estão abertos ... E como os dentes ainda fazem barulho quando puxo a carne dos teus seios que não te quer abandonar.
Fiz uma pintura em mim com o teu cálido líquido vermelho ...
Como se fosse proibido matar por amor...
Sempre ...Sempre é o nada de quem se arrepende .
O ferro em brasa do desejo em nós , o que nos pendura pelos artelhos e estilhaça os membros , rasgando a carne com sonoros elementos...da cisão, do limbo...
Cortei os teus membros que outrora me abraçavam , e pareces agora , pendurada no gancho do açougueiro um cogumelo atómico desabrochando.
Tíbias , perónios ,linfócitos , como se bolhas de oxigénio se tratassem , (abro agora um senão para aqui no meio nadar contigo ,tu que tens o nome da mãe de Cristo , nestas letras que nunca entenderás...vou então para o teu meio ...vou até ti de bruços e mariposa , numa piscina com água púrpura... mas esquece , esta mensagem vai se perder no tempo e na multidão),e tantas cordas , que são os teus nervos , ligações visíveis ao fantocheiro.
És a guitarra , a harpa , a harpia ...
Instrumento de cordas que uso a tiracolo...
Da tua boca saem cordas que embocam na tua vagina .
Arranco de ti as notas que quero , dedilhando a cabeça de homem que escondes no meio das pernas quentes , debaixo de um pequeno manto de carne.
Tu és culpada ... de tudo o que sou.
Arranquei-te a pele e foi a mim que ardeu.
Admirável o sabre que faz da baioneta pequena adaga nas escamas da mulher horrível que jaz em cima de um molho de ossos humanos , suportando com a sua volúpia a ira de todos os trovões da Terra.
Tem filhos em pequenas poças de água guardadas por sereias com corpo de Quimeras , e o velho Leviathan é agora sonho desaparecido , dando lugar a uma criança com sorriso maléfico , que chuta a sua bola que é a cabeça de uma vitíma.
A pintura completa-se como se fosse um mural para a posterioridade , com o carro do Sol levando-te para cada vez mais perto do Astro-Rei , fazendo teu corpo suar , carregando numa só imagem o desejo de todos os homens de beberem o telúrico que imola as tuas ferormonas.
Posso então pôr-te um dedo na boca , e dizer-me no silêncio das eternas trevas , que o eco e o sol poente são as testemunhas dos nossos falecimentos.
Em memória da Deusa
Despedaçado Marginal
«(...) So on i wait my whole lifetime
for you
you make me smash the clock and feel
i´d rather die behind the wheel
time was never on my side
So on i wait my whole lifetime(...)»
M.
Despedaçado marginal
E agora espero toda a minha vida
por ti
Fazes com que a dor diga sim
A que todo este ser se parta
Do princípio ao fim
Sinuoso este caminho
Como o frio aço que na ferida penetra
Rasgando-me de uma ponta à outra
E é a mim que recusas absolvição
Como se fosse eu o crime que perpetras
Plantas-te árvores que são a mão aberta
Que ao céu mendigam
Os teus segredos são os beijos que à morte instigam.
for you
you make me smash the clock and feel
i´d rather die behind the wheel
time was never on my side
So on i wait my whole lifetime(...)»
M.
Despedaçado marginal
E agora espero toda a minha vida
por ti
Fazes com que a dor diga sim
A que todo este ser se parta
Do princípio ao fim
Sinuoso este caminho
Como o frio aço que na ferida penetra
Rasgando-me de uma ponta à outra
E é a mim que recusas absolvição
Como se fosse eu o crime que perpetras
Plantas-te árvores que são a mão aberta
Que ao céu mendigam
Os teus segredos são os beijos que à morte instigam.
Cronos
Memórias de fracassos, só aqui me dizem que virás.
Aguardo fixando-me no horizonte, é mais fácil fugir do que tenho a dizer, do que saber que é tarde demais para me ir embora.
Vou para uma estrada que se me afigura tão longa, tão árdua, perco e deito o olhar na imensidão e eco de pedras feito, rochas que jazem no chão dando figura ao caminho.
Ruínas de gestos, palavras e actos, que trago com a minha boca mnemónica e recolectora nas rodas da locomotiva.
A noite era um túnel, olhos e reflexos nas janelas vagueavam como presas para o olhar voluntarioso. À noite todas as auras se misturam com a própria alma da noite. Como se as trevas reclamassem em uníssono, para si, parte da identidade dos espíritos que não comungam nos leitos a reverência do astro nocturno.
Assim que caminho saindo da boca do Metro, acalcanhando o soalho de pedra calçada,
Tombo os olhos no chão que será partida depois da chegada.
Num bar de um dos dormitórios de Lisboa, encontrei um segredo mal guardado.
O seu recheio (do bar, não do segredo...) era composto por clientes com idade madura como as umas que entram em transe na orgia do mosto...(como se fosse a persistência temporal a causa da mudança das coisas...)
Dizia, a esmagadora maioria dos utentes era já um pouco entrada na idade (que expressão épica e bonita...), e cada um sendo estrangeiro em causa própria.
Um bar de retornados(às velhas lides do sexo).
Falamos aqui do eco que se explana pelos três espaços do tempo, senão vejam...
Por um motivo ou por outro, após um certo período (Passado) de vida em comum com alguém, divorciam-se(normalmente esperam até os filhos estarem criados) passam uma temporada na terra de ninguém (terra sem alguém, neste caso), e depois de algum ressentimento, revolta e amargura, decidem divertir-se (Presente), gozar-se o que não se gozou quando o tempo aparentava ser próprio... e a existência parecia limitada a fraldas, rotinas e paciência.
As mulheres têm de ser boas na cama, e os homens têm de ser divertidos(para grunhos já bastavam os ex-maridos...) e altivos (uma forma de se fazerem desejados – inflacionados o seu valor – mas tão desesperados por serem comprados – por elas, mas mais por eles – ainda serei homem?), não-chatos. Têm todos de ser poetas. Como?
Os poetas e as poetisas sofrem, que sofram... dizem todos, desde que não gritem e continuem a produzir coisas bonitas, beleza, seja ela a face de um poema, seja ela um elogio a um atributo da vida banal ou a um atributo do parceiro(a) em vias de o(a) ser.
Conhecer pessoas, comer mulheres, conhecer e ouvir as paradas nupciais dos machos (no fundo, a «guerra dos sexos é uma guerra pelas almas).
É difícil e imperioso justificar o primeiro passo. Mas o desejo é sofístico, encontra torce e forma pretextos.
A música composta de ditirâmbicos batimentos de génese africana, e de vozes chorantes entoando temas de sofrimento amoroso( e por vezes de emancipação boçal e bacoca), faz as honras da casa diluindo as inibições, juntando as mulheres embaladas pelo canto dos ex-mancebos, e os machos embalados pelo canto da tesão e o gás da cerveja.
È através do pecado que se tem o primeiro vislumbre da salvação.
Os tempos de sedução da mocidade que já não volta, já não voltam, mas a vontade é forte e desengonçada, e encontramos no meio da pista de dança velhos espécimes retratos fieis de uma época que já passou.
A idade preenche os sonhos da juventude. A possibilidade afoga-se no girar esférico do tempo.
Vestidos demasiado espampanantes, calças demasiado justas - apertadas, demasiado gastas, demasiado bem (intencionalmente) arranjadas, peitos peludos demasiado à mostra, cabelos demasiado pintados, grisalhos demasiado grisalhos... ou porque o gosto ficou parado no tempo, ou porque a carne de quarenta, cinquenta anos precisa de mais maquilhagem para se impor, para se fazer presente, para esconder as pegadas do tempo.
E no entanto, uma contradição ao nível da derme...maquilhagem em cara de velha desfigura.
Estamos sitiados na nossa época, e esta inactividade cansa, e o exercício é estar inactivo.
Os cotas empunham as imperiais (que estranho e interessante nome!) à cabeça da mão, como se os copos e o respectivo dístico fossem os símbolos de alguma coisa.
Com um copo de cerveja nunca se está propriamente só, possibilita sempre uma fuga, uma desculpa (saborear a cerveja) se acaso algum olhar inquirir sobre a sua presença.
Víamos, dizia eu, este grupo de homens requisitando companhia (sem ela não sabem que fazer, e parece que não se vive), em montes encostados à parede, como nos bailes antigos / da mocidade, em que suavam as camisas de cetim e envergavam o vigor pueril de jovens homens , nos movimentos bruscos das danças, nos pequenos sorrisos confiantes e plenos de inocente arrogância ( a força da Terra palpita efervescente naquelas veias), além de erecções mal disfarçadas à flor de calças justas assentes em bocas de sino.
Vigor esquecido pelos anos passados em armazéns e fábricas, e oficinas, e alguns escritórios, outros obreiros de rugas.
A parede ampara agora o seu peso e por vezes um pé, uma mão no bolso , a cerveja encostada à (mais larga) cintura, à cabeça de um braço arrumado num ângulo de noventa graus...e os olhos arremessados na atenção à pista onde as fêmeas dançam , olhos de rapina , não deslumbrados mas sombrios de desejo.
Refugo matrimonial.
Vivem(os) com as ruínas e vamos demasiado longe no tempo para encetar nova construção, pelo menos com alicerces mais puros e sinceros. Temos um passado.
O tempo mais belo é o período do primeiro enamoramento. Só o amor recordado é feliz. Só amamos quem, quando perdemos. E volta tudo ao início.
Normalmente os menos deslumbrados...porque a mágoa de deitar fora e cara uma crença na felicidade, anos em comum (afinal a vida não tem aquele sentido que pintámos – como pude eu acreditar - ...) amarga para uma convicção na própria felicidade.
Afinal, sentem-se como se tivessem perdido o combóio e desperdiçado o bilhete.
Oscilamos como um pêndulo entre o filme de aventuras a cores no cinema, e o épico a preto e branco no pão nosso de cada dia. A vida é então um eterno abismo no qual nos lançamos de cabeça, sem fim, sem nada à vista.
Vou de novo para longe, jogo as pernas ao carreiro , reparo de novo que hoje as pessoas só olham umas para as outras pelos reflexos dos vidros do Metro, seja por pudor, seja pelo que for. Chamamos pelo mundo...Quando ele se aproxima, dizemos que não era este.
Preparo-me para sair da estação, um cheiro acre intenso a urina invade o ambiente, é de manhã, as pessoas vão trabalhar para a rotina, o Metropolitano está saturado.
Quase todos pensamos que o cheiro é um infeliz vestígio da vida de diversão nocturna, em que ébrios poisam pelos cantos da cidade marcas de territorialidade inconsequente.
Repousei o assunto.
Saudei-me a mim próprio na partida.
Ao subir as escadas para apanhar o autocarro no Areeiro (sempre o Areeiro), encostado também à parede, jaz um velho de face hirta e assustada, as pessoas passam por ele e vão demasiado hipnotizadas nas suas cogitações da habitual jornada, para repararem nele. Algumas reparam, apercebem-se e fazem por ignorar. Vejo-o encostado, agarrado a um dos ferros do corrimão, em desesperante eminência de vergonha, temendo sobretudo, o peso dos olhares dos outros (juízos vagamente kafkianos), enquanto abana as calças molhadas e vê escorrer o comprometedor líquido que esbofeteia quem pára no tempo para pensar sobre ele.
Irónico, ser a urina a lembrar-nos do Homem e do tempo, a luta contra o tempo (luta madrasta), em que o Homem perde sempre.
Mandam-nos para a vida, como ensinam uma criança a nadar...mandam-nos para dentro de água e dizem para dar-mos aos braços.
Depois ele mija-se.
Só lhe falta chorar (a vontade não é nada pouca), mendiga compreensão com os olhos, constrói expressões faciais de extremo desagrado (vénia à multidão) e impotência perante a situação.
A verdade é que ninguém repara nele e no cheiro intenso que se entranha nas narinas. Mas ele como que se sente no centro no centro de um tubo de ensaio observado ao microscópio por todos, e corrói-se porque já não funciona como os restantes( está de parte?), a entropia toma conta de tudo.
Parece uma criança (Futuro) , uma criança que aprende agora as leis de higiene e etiqueta, que se prepara para a passagem do tempo vindouro.
A passagem de Cronos.
in Olisipo
SK in memoriam
Aguardo fixando-me no horizonte, é mais fácil fugir do que tenho a dizer, do que saber que é tarde demais para me ir embora.
Vou para uma estrada que se me afigura tão longa, tão árdua, perco e deito o olhar na imensidão e eco de pedras feito, rochas que jazem no chão dando figura ao caminho.
Ruínas de gestos, palavras e actos, que trago com a minha boca mnemónica e recolectora nas rodas da locomotiva.
A noite era um túnel, olhos e reflexos nas janelas vagueavam como presas para o olhar voluntarioso. À noite todas as auras se misturam com a própria alma da noite. Como se as trevas reclamassem em uníssono, para si, parte da identidade dos espíritos que não comungam nos leitos a reverência do astro nocturno.
Assim que caminho saindo da boca do Metro, acalcanhando o soalho de pedra calçada,
Tombo os olhos no chão que será partida depois da chegada.
Num bar de um dos dormitórios de Lisboa, encontrei um segredo mal guardado.
O seu recheio (do bar, não do segredo...) era composto por clientes com idade madura como as umas que entram em transe na orgia do mosto...(como se fosse a persistência temporal a causa da mudança das coisas...)
Dizia, a esmagadora maioria dos utentes era já um pouco entrada na idade (que expressão épica e bonita...), e cada um sendo estrangeiro em causa própria.
Um bar de retornados(às velhas lides do sexo).
Falamos aqui do eco que se explana pelos três espaços do tempo, senão vejam...
Por um motivo ou por outro, após um certo período (Passado) de vida em comum com alguém, divorciam-se(normalmente esperam até os filhos estarem criados) passam uma temporada na terra de ninguém (terra sem alguém, neste caso), e depois de algum ressentimento, revolta e amargura, decidem divertir-se (Presente), gozar-se o que não se gozou quando o tempo aparentava ser próprio... e a existência parecia limitada a fraldas, rotinas e paciência.
As mulheres têm de ser boas na cama, e os homens têm de ser divertidos(para grunhos já bastavam os ex-maridos...) e altivos (uma forma de se fazerem desejados – inflacionados o seu valor – mas tão desesperados por serem comprados – por elas, mas mais por eles – ainda serei homem?), não-chatos. Têm todos de ser poetas. Como?
Os poetas e as poetisas sofrem, que sofram... dizem todos, desde que não gritem e continuem a produzir coisas bonitas, beleza, seja ela a face de um poema, seja ela um elogio a um atributo da vida banal ou a um atributo do parceiro(a) em vias de o(a) ser.
Conhecer pessoas, comer mulheres, conhecer e ouvir as paradas nupciais dos machos (no fundo, a «guerra dos sexos é uma guerra pelas almas).
É difícil e imperioso justificar o primeiro passo. Mas o desejo é sofístico, encontra torce e forma pretextos.
A música composta de ditirâmbicos batimentos de génese africana, e de vozes chorantes entoando temas de sofrimento amoroso( e por vezes de emancipação boçal e bacoca), faz as honras da casa diluindo as inibições, juntando as mulheres embaladas pelo canto dos ex-mancebos, e os machos embalados pelo canto da tesão e o gás da cerveja.
È através do pecado que se tem o primeiro vislumbre da salvação.
Os tempos de sedução da mocidade que já não volta, já não voltam, mas a vontade é forte e desengonçada, e encontramos no meio da pista de dança velhos espécimes retratos fieis de uma época que já passou.
A idade preenche os sonhos da juventude. A possibilidade afoga-se no girar esférico do tempo.
Vestidos demasiado espampanantes, calças demasiado justas - apertadas, demasiado gastas, demasiado bem (intencionalmente) arranjadas, peitos peludos demasiado à mostra, cabelos demasiado pintados, grisalhos demasiado grisalhos... ou porque o gosto ficou parado no tempo, ou porque a carne de quarenta, cinquenta anos precisa de mais maquilhagem para se impor, para se fazer presente, para esconder as pegadas do tempo.
E no entanto, uma contradição ao nível da derme...maquilhagem em cara de velha desfigura.
Estamos sitiados na nossa época, e esta inactividade cansa, e o exercício é estar inactivo.
Os cotas empunham as imperiais (que estranho e interessante nome!) à cabeça da mão, como se os copos e o respectivo dístico fossem os símbolos de alguma coisa.
Com um copo de cerveja nunca se está propriamente só, possibilita sempre uma fuga, uma desculpa (saborear a cerveja) se acaso algum olhar inquirir sobre a sua presença.
Víamos, dizia eu, este grupo de homens requisitando companhia (sem ela não sabem que fazer, e parece que não se vive), em montes encostados à parede, como nos bailes antigos / da mocidade, em que suavam as camisas de cetim e envergavam o vigor pueril de jovens homens , nos movimentos bruscos das danças, nos pequenos sorrisos confiantes e plenos de inocente arrogância ( a força da Terra palpita efervescente naquelas veias), além de erecções mal disfarçadas à flor de calças justas assentes em bocas de sino.
Vigor esquecido pelos anos passados em armazéns e fábricas, e oficinas, e alguns escritórios, outros obreiros de rugas.
A parede ampara agora o seu peso e por vezes um pé, uma mão no bolso , a cerveja encostada à (mais larga) cintura, à cabeça de um braço arrumado num ângulo de noventa graus...e os olhos arremessados na atenção à pista onde as fêmeas dançam , olhos de rapina , não deslumbrados mas sombrios de desejo.
Refugo matrimonial.
Vivem(os) com as ruínas e vamos demasiado longe no tempo para encetar nova construção, pelo menos com alicerces mais puros e sinceros. Temos um passado.
O tempo mais belo é o período do primeiro enamoramento. Só o amor recordado é feliz. Só amamos quem, quando perdemos. E volta tudo ao início.
Normalmente os menos deslumbrados...porque a mágoa de deitar fora e cara uma crença na felicidade, anos em comum (afinal a vida não tem aquele sentido que pintámos – como pude eu acreditar - ...) amarga para uma convicção na própria felicidade.
Afinal, sentem-se como se tivessem perdido o combóio e desperdiçado o bilhete.
Oscilamos como um pêndulo entre o filme de aventuras a cores no cinema, e o épico a preto e branco no pão nosso de cada dia. A vida é então um eterno abismo no qual nos lançamos de cabeça, sem fim, sem nada à vista.
Vou de novo para longe, jogo as pernas ao carreiro , reparo de novo que hoje as pessoas só olham umas para as outras pelos reflexos dos vidros do Metro, seja por pudor, seja pelo que for. Chamamos pelo mundo...Quando ele se aproxima, dizemos que não era este.
Preparo-me para sair da estação, um cheiro acre intenso a urina invade o ambiente, é de manhã, as pessoas vão trabalhar para a rotina, o Metropolitano está saturado.
Quase todos pensamos que o cheiro é um infeliz vestígio da vida de diversão nocturna, em que ébrios poisam pelos cantos da cidade marcas de territorialidade inconsequente.
Repousei o assunto.
Saudei-me a mim próprio na partida.
Ao subir as escadas para apanhar o autocarro no Areeiro (sempre o Areeiro), encostado também à parede, jaz um velho de face hirta e assustada, as pessoas passam por ele e vão demasiado hipnotizadas nas suas cogitações da habitual jornada, para repararem nele. Algumas reparam, apercebem-se e fazem por ignorar. Vejo-o encostado, agarrado a um dos ferros do corrimão, em desesperante eminência de vergonha, temendo sobretudo, o peso dos olhares dos outros (juízos vagamente kafkianos), enquanto abana as calças molhadas e vê escorrer o comprometedor líquido que esbofeteia quem pára no tempo para pensar sobre ele.
Irónico, ser a urina a lembrar-nos do Homem e do tempo, a luta contra o tempo (luta madrasta), em que o Homem perde sempre.
Mandam-nos para a vida, como ensinam uma criança a nadar...mandam-nos para dentro de água e dizem para dar-mos aos braços.
Depois ele mija-se.
Só lhe falta chorar (a vontade não é nada pouca), mendiga compreensão com os olhos, constrói expressões faciais de extremo desagrado (vénia à multidão) e impotência perante a situação.
A verdade é que ninguém repara nele e no cheiro intenso que se entranha nas narinas. Mas ele como que se sente no centro no centro de um tubo de ensaio observado ao microscópio por todos, e corrói-se porque já não funciona como os restantes( está de parte?), a entropia toma conta de tudo.
Parece uma criança (Futuro) , uma criança que aprende agora as leis de higiene e etiqueta, que se prepara para a passagem do tempo vindouro.
A passagem de Cronos.
in Olisipo
SK in memoriam
Ad se ipsum
Vejo o fumo dançar de braços abertos após a lenta consumição do cigarro.
Sinto a nicotina fazer cócegas na garganta, e deixo-me ir no trenó do transe que me vem buscar quando me abandono ao eco que a suave tontura apenas pressagia.
Palavras são desnecessárias agora.
Medito ao som dos gemidos que ela confessa.
Tenho um segredo que acarinho, um segredo demasiado íntimo...nem a ela o contei.
É um daqueles segredos que temos só para nós. Será segredo? Não o contaremos de certo, mas vive-nos na cara a eminência de querer adivinhá-lo nas caras dos outros quando com eles falamos.
Mas nunca o regurgitamos...
A dúvida fazia parte desse segredo. O duvidoso é chicoteado, balança ao sabor da dúvida que é o próprio chicote.
Ninguém vem ao mundo sem chorar, mas quantas vezes me faltaram as lágrimas, porque não conseguia respirar por causa do nó seco que sentia na garganta quando pensava na suspeita credível que emanava da sucessão dos acontecimentos?
Quantas vezes chorei porque eu não o consigo fazer, e pensava que ela também não...queria nisso acreditar, mas algo nos diz sempre a verdade.
Por um lado é melhor assim. Agora a dúvida foi-se (foi-se?), tenho à minha frente aquilo que me fazia dar em louco (vejam só os suspiros de prazer que ela arranca do corpo ...), o que imaginava...acarinhei imagens semelhantes a estas com medo que elas fossem verdade, e o nosso medo torna-se tão íntimo, que é como que o nosso melhor amigo, confidente, amigo em segredo que contamos só para nós.
A dúvida venenosa na minha mente tudo consumia (agora tenho nada, apenas este cigarro e cicatriz que me marcam a garganta), a minha alma era como uma ave voando sob o Mar Morto, atraída para o abismo, chegada a meio caminho afundando-se exausta – sem forças para voltar para trás ou para seguir em frente – e no entanto, quando parecia mergulhar na morte e destruição, o próprio sopro ascendente da inerte massa de água me fazia voar mais um pouco, queimado por cima pelo Sol, corroído por baixo pelo Sal. Como uma andorinha.
Ela contorce-se com uma vitalidade de ginasta, no turbilhão de lençóis da nossa cama, vejo à contraluz aquele vale entre os lombares (sempre fui louco por lombares carnudos), ondulando como se estivessem a ser controlados por duas mãos invisíveis de acordeonista.
Vejam como se abandona, até inclina a cabeça para trás (é a mesma mulher que conheço?) fechando os olhos e meneando ( em jeito de pequena dança) o crânio, para retirar do pescoço suado alguns cabelos residuais que a fazem sentir mais calor, ou comichão, ou então é apenas um reflexo do prazer...Concentra-se na penetração e nas ondas e ciclo das marés que prenunciam o clímax, o apogeu, o orgasmo, quando a Terra parece nos sorver para o seu centro, quando nos encolhemos para nós, encarquilhando como folhas velhas e tombadas no Outono......o orgasmo....
A mulher que casou comigo, faz três anos...
No início é tudo tão cor-de-rosa...connosco foi tão bom...fazíamos amor a qualquer hora e em qualquer sítio...As reverências de um para com o outro eram mais que comuns, mais que constantes. Como general no prenúncio da batalha, como os primeiros contactos com os amigos em vias de o ser, cada um apalpava o terreno e a pouco e pouco ganha-se intimidade, e metemo-nos à vontade – como se estivéssemos em nossa casa.
Nunca nos podemos dar naquilo que realmente somos.
É esta a lição que continuamente reaprendo.
Há sempre uma fronteira na intimidade além da qual, mesmo quem te ama, te abandona, bicho humano que precisa de mistério e desafio. Isto se quiserem manter alguém. A melhor maneira de alguém perder é dar, apostar tudo. A devoção total é o inimigo de uma relação duradoura...provem-me (a)o contrário...
Solidão não é estarmos sozinhos, é nunca poder dar o que somos.
Não sou bom gestor de mistério e de distâncias. Nunca o fui. Não me sei dar, dou-me demais...
Ficámos tão à vontade que se calhar, perdemos o interesse...
Interiorizei que ia ser um homenzinho, ia tratá-la como igual, como deusa até, iria desempenhar o papel de responsável, de farol...(é esse o papel do homem, não é?)Quis fazer vida, comprar casa, carro, hipermercados, cinema ao fim-de-semana, jantares de amigos e de colegas de trabalho, fazer que os outros casais fazem (mas melhor, íamos ser felizes...), pensávamos que nos conhecíamos um ao outro, e a nós...Tornei-me estóico com frugalidade de asceta...(é preciso disciplina para pagar um apartamento uma vida inteira, e ter tempo para andar feliz depois de um dia de ditador trabalho).
Talvez me tenha tornado sisudo com a responsabilidade(que outrora sedento desejei...), perdeu-se a alegria. Assim até entendo que aconteceu. O que está agora a acontecer. A impotência agora não me envergonha... dói demais para doer.
Mas onde foi que me tornei estranho para ela? Para acontecer isto?
Mas não devia ela amar-me fosse como fosse, mesmo que eu me transformasse num sapo?
Nunca peçam a alguém para não fazer ou fazer algo determinado...ó espécie sombria que vos dá sempre o contrário do que vocês pedem...
Pensar nisto agora é inútil e desapropriado.
Prefiro apreciar as belas mamas da minha mulher balouçando ritmicamente a um som de comunhão ofegante. É este o pulsar da Terra. Todos os seios são mudos e não precisam de falar, são poderosos imãs para mãos e lábios. A cópula é o jogo do puzzle mais antigo da memória.
Como a concha da mão cobre aquele monte carnudo na perfeição, como é bom sentir o mamilo duro na palma da nossa mão, fazendo cócegas que nos fazem render ao involuntário e ter mais tesão.
Agarrar aqueles seios é um código secreto intemporal anunciante da volúpia, da embriaguez da carne. Os seios, as nádegas, as coxas.....a carne deixa-me louco.
Imaginei esta cena por completo. Parece um filme. Se calhar a ideia veio-me de algum filme que vi.
Já tinha imaginado tudo. Sentar-me aqui no toucador aos pés da cama, acender um cigarro (eu, que não fumo...), e ficar a ver. E a pensar.
Que outras coisas podia fazer?
Apontar-lhe uma arma aos cornos e dizer-lhe para continuar, senão dou-te um tiro no focinho? Filho da puta. Ela é minha mulher?
Acho que é melhor assim, encarar lentamente esta tortura angustiante de frente, e pensar, pensar...
Pensar na cara dela a fazermos amor, quando está por cima e lhe vejo entreaberto pelo meio dos cabelos, um sorriso um cometimento, um estar ali compenetrada em si... Como é belo, como tendemos a arrumar mesmo o que é mais precioso para nós em gavetas de incontestável propriedade...Não, não vou pensar que a culpa é minha, que grotesco...
Que diria ela, depois de tudo isto? Teria palavras? Há quem lhes dê uma carga de porrada, que durante uma semana ninguém olha para elas a não ser com aversão e pena... Sempre pensei que se fosse, não seria assim...Nestes momentos é que as pernas da moral fraquejam e tremem sob o peso da fúria.
As palavras que dizíamos de juras infinitas de não sei quê de eterno...
Tudo vão, vago.
Já tinha imaginado tudo. Sentar-me aqui no toucador aos pés da cama, acender um cigarro (eu, que não fumo...), e ficar a ver. E a pensar.
Saí do trabalho mais cedo. Meti a chave à porta sem fazer barulho (como gostava de fazer amor com ela de lado encaixado no meio das suas pernas, abraçado, tão próximo que tínhamos de virar a cara para não nos sufocarmos um ao outro com a expiração), fechei-a no maior dos silêncios, tirei os sapatos para as meias abafarem o som da minha locomoção.
Já tinha imaginado tudo, naqueles dias inteiro de prazer masoquista passados a fazer filmes (de terror, tragédias, ficção científica, policiais, sitcoms...)na minha cabeça.
Já tivera a certeza quase comprovada (um homem sente estas coisas), de modo que a coisa esfriara de modo a eu puder ter uma certa distância para poder planear.
Comprei o maço de tabaco mais preto do quiosque (de acordo com o meu estado de espírito de mártir), na algibeira o revólver que comprei e que tinha guardado na minha secretária do meu escritório.
A porta do quarto encostada, no dia anterior tinha oleado as dobradiças, não fez barulho nenhum ao ser aberta...em bicos de pés sentei-me, aproveitei o passar de um avião para acender o cigarro, o isqueiro é a gasolina e faz algum barulho a acender...o cigarro vai agora a meio caminho. Como a minha mulher é linda, ainda a amo, se calhar a culpa é minha, tenho vontade de chorar, mas no frio da minha tristeza tenho a água dos olhos congelada em icebergs... Percebem o épico aqui? Os planos até à velhice, planos de felicidade, ecos de uma vida inteira, desde que em puto pensei pela primeira vez o que seria a minha vida futura, e a fé que tinha no casamento? É toda uma vida que desfila...É toda uma filosofia que nos esbofeteia acordando-nos violentamente para as mais pequenas coisas para as quais estávamos dormentes...Toda a perspectiva do mundo entra em suspenso e amarga. Percebem-me? Quero que se fodam...
Ela está a foder, ou a fazer amor? (Ténue indício de esperança que renasce das cinzas...)
Sinto-me ridículo nesta minha figura, (que saudades tenho de lhe lamber a boca e sentir o suor dela a cair-me no rosto e no peito), o corpo dela não está nas minhas mãos, oiço desabafos guturais que ele grunhe, os lençóis que agarra (com força) na minha cama, à medida que investe, e que ela responde (ás investidas) com gemidos...a comunhão entre não eu e ela...fico de fora, meto o revólver na minha boca, fecho os olhos mas logo apago esta imagem da minha imaginação, mudo para um levantar-me e encostar-lhe o cano às têmporas...mas e ela? O que lhe digo?
Vejo o fumo dançar de braços abertos após a lenta consumição do cigarro.
Sinto a nicotina fazer cócegas na garganta, e deixo-me ir no trenó do transe que me vem buscar quando me abandono ao eco que a suave tontura apenas pressagia.
Palavras são desnecessárias agora.
Medito ao som dos gemidos que ela confessa.
Estão-se a vir. Estou-me a ir, vem aí a cena. Vou ficar calado não tenho nada para dizer.
Espero que com o revólver na mão tenham medo e não me digam nada.
Viraram-se, deitaram-se de barriga para o ar, extenuados, vão fumar um cigarro. Ele já me viu, ficou sobressaltado, tapa os genitais com vergonha, não sabe onde se meter, faz sinal (um encontrão com o cotovelo)a ela que reage da mesma maneira, tapa as mamas... Dizem algo, mostram-me as palmas das mãos, explicam-se, gesticulam, levam as mãos à cabeça, parece que se sentem arrependidos...
Palavras são desnecessárias agora.
Como a minha mulher é linda, ainda a amo...
Sinto a nicotina fazer cócegas na garganta, e deixo-me ir no trenó do transe que me vem buscar quando me abandono ao eco que a suave tontura apenas pressagia.
Palavras são desnecessárias agora.
Medito ao som dos gemidos que ela confessa.
Tenho um segredo que acarinho, um segredo demasiado íntimo...nem a ela o contei.
É um daqueles segredos que temos só para nós. Será segredo? Não o contaremos de certo, mas vive-nos na cara a eminência de querer adivinhá-lo nas caras dos outros quando com eles falamos.
Mas nunca o regurgitamos...
A dúvida fazia parte desse segredo. O duvidoso é chicoteado, balança ao sabor da dúvida que é o próprio chicote.
Ninguém vem ao mundo sem chorar, mas quantas vezes me faltaram as lágrimas, porque não conseguia respirar por causa do nó seco que sentia na garganta quando pensava na suspeita credível que emanava da sucessão dos acontecimentos?
Quantas vezes chorei porque eu não o consigo fazer, e pensava que ela também não...queria nisso acreditar, mas algo nos diz sempre a verdade.
Por um lado é melhor assim. Agora a dúvida foi-se (foi-se?), tenho à minha frente aquilo que me fazia dar em louco (vejam só os suspiros de prazer que ela arranca do corpo ...), o que imaginava...acarinhei imagens semelhantes a estas com medo que elas fossem verdade, e o nosso medo torna-se tão íntimo, que é como que o nosso melhor amigo, confidente, amigo em segredo que contamos só para nós.
A dúvida venenosa na minha mente tudo consumia (agora tenho nada, apenas este cigarro e cicatriz que me marcam a garganta), a minha alma era como uma ave voando sob o Mar Morto, atraída para o abismo, chegada a meio caminho afundando-se exausta – sem forças para voltar para trás ou para seguir em frente – e no entanto, quando parecia mergulhar na morte e destruição, o próprio sopro ascendente da inerte massa de água me fazia voar mais um pouco, queimado por cima pelo Sol, corroído por baixo pelo Sal. Como uma andorinha.
Ela contorce-se com uma vitalidade de ginasta, no turbilhão de lençóis da nossa cama, vejo à contraluz aquele vale entre os lombares (sempre fui louco por lombares carnudos), ondulando como se estivessem a ser controlados por duas mãos invisíveis de acordeonista.
Vejam como se abandona, até inclina a cabeça para trás (é a mesma mulher que conheço?) fechando os olhos e meneando ( em jeito de pequena dança) o crânio, para retirar do pescoço suado alguns cabelos residuais que a fazem sentir mais calor, ou comichão, ou então é apenas um reflexo do prazer...Concentra-se na penetração e nas ondas e ciclo das marés que prenunciam o clímax, o apogeu, o orgasmo, quando a Terra parece nos sorver para o seu centro, quando nos encolhemos para nós, encarquilhando como folhas velhas e tombadas no Outono......o orgasmo....
A mulher que casou comigo, faz três anos...
No início é tudo tão cor-de-rosa...connosco foi tão bom...fazíamos amor a qualquer hora e em qualquer sítio...As reverências de um para com o outro eram mais que comuns, mais que constantes. Como general no prenúncio da batalha, como os primeiros contactos com os amigos em vias de o ser, cada um apalpava o terreno e a pouco e pouco ganha-se intimidade, e metemo-nos à vontade – como se estivéssemos em nossa casa.
Nunca nos podemos dar naquilo que realmente somos.
É esta a lição que continuamente reaprendo.
Há sempre uma fronteira na intimidade além da qual, mesmo quem te ama, te abandona, bicho humano que precisa de mistério e desafio. Isto se quiserem manter alguém. A melhor maneira de alguém perder é dar, apostar tudo. A devoção total é o inimigo de uma relação duradoura...provem-me (a)o contrário...
Solidão não é estarmos sozinhos, é nunca poder dar o que somos.
Não sou bom gestor de mistério e de distâncias. Nunca o fui. Não me sei dar, dou-me demais...
Ficámos tão à vontade que se calhar, perdemos o interesse...
Interiorizei que ia ser um homenzinho, ia tratá-la como igual, como deusa até, iria desempenhar o papel de responsável, de farol...(é esse o papel do homem, não é?)Quis fazer vida, comprar casa, carro, hipermercados, cinema ao fim-de-semana, jantares de amigos e de colegas de trabalho, fazer que os outros casais fazem (mas melhor, íamos ser felizes...), pensávamos que nos conhecíamos um ao outro, e a nós...Tornei-me estóico com frugalidade de asceta...(é preciso disciplina para pagar um apartamento uma vida inteira, e ter tempo para andar feliz depois de um dia de ditador trabalho).
Talvez me tenha tornado sisudo com a responsabilidade(que outrora sedento desejei...), perdeu-se a alegria. Assim até entendo que aconteceu. O que está agora a acontecer. A impotência agora não me envergonha... dói demais para doer.
Mas onde foi que me tornei estranho para ela? Para acontecer isto?
Mas não devia ela amar-me fosse como fosse, mesmo que eu me transformasse num sapo?
Nunca peçam a alguém para não fazer ou fazer algo determinado...ó espécie sombria que vos dá sempre o contrário do que vocês pedem...
Pensar nisto agora é inútil e desapropriado.
Prefiro apreciar as belas mamas da minha mulher balouçando ritmicamente a um som de comunhão ofegante. É este o pulsar da Terra. Todos os seios são mudos e não precisam de falar, são poderosos imãs para mãos e lábios. A cópula é o jogo do puzzle mais antigo da memória.
Como a concha da mão cobre aquele monte carnudo na perfeição, como é bom sentir o mamilo duro na palma da nossa mão, fazendo cócegas que nos fazem render ao involuntário e ter mais tesão.
Agarrar aqueles seios é um código secreto intemporal anunciante da volúpia, da embriaguez da carne. Os seios, as nádegas, as coxas.....a carne deixa-me louco.
Imaginei esta cena por completo. Parece um filme. Se calhar a ideia veio-me de algum filme que vi.
Já tinha imaginado tudo. Sentar-me aqui no toucador aos pés da cama, acender um cigarro (eu, que não fumo...), e ficar a ver. E a pensar.
Que outras coisas podia fazer?
Apontar-lhe uma arma aos cornos e dizer-lhe para continuar, senão dou-te um tiro no focinho? Filho da puta. Ela é minha mulher?
Acho que é melhor assim, encarar lentamente esta tortura angustiante de frente, e pensar, pensar...
Pensar na cara dela a fazermos amor, quando está por cima e lhe vejo entreaberto pelo meio dos cabelos, um sorriso um cometimento, um estar ali compenetrada em si... Como é belo, como tendemos a arrumar mesmo o que é mais precioso para nós em gavetas de incontestável propriedade...Não, não vou pensar que a culpa é minha, que grotesco...
Que diria ela, depois de tudo isto? Teria palavras? Há quem lhes dê uma carga de porrada, que durante uma semana ninguém olha para elas a não ser com aversão e pena... Sempre pensei que se fosse, não seria assim...Nestes momentos é que as pernas da moral fraquejam e tremem sob o peso da fúria.
As palavras que dizíamos de juras infinitas de não sei quê de eterno...
Tudo vão, vago.
Já tinha imaginado tudo. Sentar-me aqui no toucador aos pés da cama, acender um cigarro (eu, que não fumo...), e ficar a ver. E a pensar.
Saí do trabalho mais cedo. Meti a chave à porta sem fazer barulho (como gostava de fazer amor com ela de lado encaixado no meio das suas pernas, abraçado, tão próximo que tínhamos de virar a cara para não nos sufocarmos um ao outro com a expiração), fechei-a no maior dos silêncios, tirei os sapatos para as meias abafarem o som da minha locomoção.
Já tinha imaginado tudo, naqueles dias inteiro de prazer masoquista passados a fazer filmes (de terror, tragédias, ficção científica, policiais, sitcoms...)na minha cabeça.
Já tivera a certeza quase comprovada (um homem sente estas coisas), de modo que a coisa esfriara de modo a eu puder ter uma certa distância para poder planear.
Comprei o maço de tabaco mais preto do quiosque (de acordo com o meu estado de espírito de mártir), na algibeira o revólver que comprei e que tinha guardado na minha secretária do meu escritório.
A porta do quarto encostada, no dia anterior tinha oleado as dobradiças, não fez barulho nenhum ao ser aberta...em bicos de pés sentei-me, aproveitei o passar de um avião para acender o cigarro, o isqueiro é a gasolina e faz algum barulho a acender...o cigarro vai agora a meio caminho. Como a minha mulher é linda, ainda a amo, se calhar a culpa é minha, tenho vontade de chorar, mas no frio da minha tristeza tenho a água dos olhos congelada em icebergs... Percebem o épico aqui? Os planos até à velhice, planos de felicidade, ecos de uma vida inteira, desde que em puto pensei pela primeira vez o que seria a minha vida futura, e a fé que tinha no casamento? É toda uma vida que desfila...É toda uma filosofia que nos esbofeteia acordando-nos violentamente para as mais pequenas coisas para as quais estávamos dormentes...Toda a perspectiva do mundo entra em suspenso e amarga. Percebem-me? Quero que se fodam...
Ela está a foder, ou a fazer amor? (Ténue indício de esperança que renasce das cinzas...)
Sinto-me ridículo nesta minha figura, (que saudades tenho de lhe lamber a boca e sentir o suor dela a cair-me no rosto e no peito), o corpo dela não está nas minhas mãos, oiço desabafos guturais que ele grunhe, os lençóis que agarra (com força) na minha cama, à medida que investe, e que ela responde (ás investidas) com gemidos...a comunhão entre não eu e ela...fico de fora, meto o revólver na minha boca, fecho os olhos mas logo apago esta imagem da minha imaginação, mudo para um levantar-me e encostar-lhe o cano às têmporas...mas e ela? O que lhe digo?
Vejo o fumo dançar de braços abertos após a lenta consumição do cigarro.
Sinto a nicotina fazer cócegas na garganta, e deixo-me ir no trenó do transe que me vem buscar quando me abandono ao eco que a suave tontura apenas pressagia.
Palavras são desnecessárias agora.
Medito ao som dos gemidos que ela confessa.
Estão-se a vir. Estou-me a ir, vem aí a cena. Vou ficar calado não tenho nada para dizer.
Espero que com o revólver na mão tenham medo e não me digam nada.
Viraram-se, deitaram-se de barriga para o ar, extenuados, vão fumar um cigarro. Ele já me viu, ficou sobressaltado, tapa os genitais com vergonha, não sabe onde se meter, faz sinal (um encontrão com o cotovelo)a ela que reage da mesma maneira, tapa as mamas... Dizem algo, mostram-me as palmas das mãos, explicam-se, gesticulam, levam as mãos à cabeça, parece que se sentem arrependidos...
Palavras são desnecessárias agora.
Como a minha mulher é linda, ainda a amo...
A boca caira-me
A boca caira-me no chão , e não havia maneira de a ir buscar. Só vem dia treze..
E que ânimo aquele que me fugiu pelas traseiras da nuca.
Apeteceu-me dar o peito , desafiando qualquer onda da vida com a minha blasfémia.
Este foi o dia em que a Terra parou. Tão quietinha como os teares de lã na casas das nossas avós.
Doze dias em que a charrua da ausência me esventra encarniçadamente.
Olho tantas pessoas neste vale das sombras da morte.
Não nos enganemos. Eu sou uma sombra. E tudo me parece humano , demasiado humano.
Sombras do que somos. Porque a sombra é filha da interposição do Homem e do Mundo .
A luz que emana , pois para a escura sombra algo de luminoso tem de existir , e misturamo-nos em luzinhas do que somos , e actores em papeis que é conveniente representar . Trazemos papeis escritos por todos para dentro de nós , pensamo-nos sempre com medidas de outrém , como podemos falar em pesado?
Depilava as pernas n a casa-de-banho que se voltava para mim.
Pernas que outrora em jardins corriam , e agora sofriam o desbaste da lâmina lenhadora.
A minha vida não se resume ao cinzento?
Desde aqueles jardins que acredito no cepticismo. Amam-me até morrer , mas estão todos vivos.Aprendi com o meu corpo e com o meu espírito .
E agora sou a amante da dúvida descrente.
Logo de manhã fingi-me alegre e brincalhona , para poder mexer as pernas à vontade , é que a lâmina estava gasta e a carne ardia.
Ele veio Ter comigo e disse que me amava.
Um baque no coração ...
A boca caira-me no chão , e não encontrava maneira de a ir buscar. Só vem dia treze...
E que ânimo aquele que me fugiu pelas traseiras da nuca.
Apeteceu-me dar o peito , desafiando qualquer onda da vida com a minha blasfémia.
Este foi o dia em que a Terra parou. Tão quietinha como os teares de lã na casas das nossas avós.
Doze dias em que a charrua da ausência me esventra encarniçadamente.
Olho tantas pessoas neste vale das sombras da morte.
Não nos enganemos. Eu sou uma sombra. E tudo me parece humano , demasiado humano.
Sombras do que somos. Porque a sombra é filha da interposição do Homem e do Mundo .
A luz que emana , pois para a escura sombra algo de luminoso tem de existir , e misturamo-nos em luzinhas do que somos , e actores em papeis que é conveniente representar . Trazemos papeis escritos por todos para dentro de nós , pensamo-nos sempre com medidas de outrém , como podemos falar em pesado?
Depilava as pernas n a casa-de-banho que se voltava para mim.
Pernas que outrora em jardins corriam , e agora sofriam o desbaste da lâmina lenhadora.
A minha vida não se resume ao cinzento?
Desde aqueles jardins que acredito no cepticismo. Amam-me até morrer , mas estão todos vivos.Aprendi com o meu corpo e com o meu espírito .
E agora sou a amante da dúvida descrente.
Logo de manhã fingi-me alegre e brincalhona , para poder mexer as pernas à vontade , é que a lâmina estava gasta e a carne ardia.
Ele veio Ter comigo e disse que me amava.
Um baque no coração ...
A boca caira-me no chão , e não encontrava maneira de a ir buscar. Só vem dia treze...
25 de janeiro de 2007
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