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23 de julho de 2007

A boca caira-me

A boca caira-me no chão , e não havia maneira de a ir buscar. Só vem dia treze..
E que ânimo aquele que me fugiu pelas traseiras da nuca.
Apeteceu-me dar o peito , desafiando qualquer onda da vida com a minha blasfémia.
Este foi o dia em que a Terra parou. Tão quietinha como os teares de lã na casas das nossas avós.
Doze dias em que a charrua da ausência me esventra encarniçadamente.
Olho tantas pessoas neste vale das sombras da morte.
Não nos enganemos. Eu sou uma sombra. E tudo me parece humano , demasiado humano.
Sombras do que somos. Porque a sombra é filha da interposição do Homem e do Mundo .
A luz que emana , pois para a escura sombra algo de luminoso tem de existir , e misturamo-nos em luzinhas do que somos , e actores em papeis que é conveniente representar . Trazemos papeis escritos por todos para dentro de nós , pensamo-nos sempre com medidas de outrém , como podemos falar em pesado?
Depilava as pernas n a casa-de-banho que se voltava para mim.
Pernas que outrora em jardins corriam , e agora sofriam o desbaste da lâmina lenhadora.
A minha vida não se resume ao cinzento?
Desde aqueles jardins que acredito no cepticismo. Amam-me até morrer , mas estão todos vivos.Aprendi com o meu corpo e com o meu espírito .
E agora sou a amante da dúvida descrente.
Logo de manhã fingi-me alegre e brincalhona , para poder mexer as pernas à vontade , é que a lâmina estava gasta e a carne ardia.
Ele veio Ter comigo e disse que me amava.
Um baque no coração ...
A boca caira-me no chão , e não encontrava maneira de a ir buscar. Só vem dia treze...

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