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23 de julho de 2007

Síndroma de

«Estava a olhar para os teus olhos e perdi-me .Perdi-me no abraço que não te dei e nem a bússola que escondo no armário me indica de onde virá o próximo amor. Vi o riso que forçavas a cara a ter .»

Eram 21:00.Estava farto de espreitar pelos corredores.
Berrei para o meu fazedor para me meter noutro lado...Numa discoteca em ladies night .Ele ao invés lá bailou a sua caneta vomitando aquela tinta que me faz, e voltou a sentar-me com uma perna cruzada , vejam bem. Marta lá estava ela , entregava-se ao caderno com uma fúria inaudita. O meu escritor , se tivesse metade daquela paixão e eu seria muito mais ornado e profundo. Mas não , o tipo é um desgostoso com a vida , e como não tem mulher , filhos , nem cão ,vem chorar para o meu ombro como se eu o pudesse ajudar...É um sanguessuga...Vive à custa da minha vida , maldito pedinte. E nem sabe fazer histórias espectaculares em que eu me divirta. Mete-me a expiar alguém que desconfio que o traz pelo beicinho. Mas aquela ?A bem dizer é girinha...Mas está-se a borrifar para a existência dele. Este gajo é um totó de primeira. Para completar a pintura só faltam os dentes à ratinho e os óculos à fundo de garrafa. Anda sempre por aí a passear com ar de confiante , quando se borra até quando grito com ele...
Só lhe admiro uma coisa...É sempre do contra...E é tão fácil enganá-lo...Basta dizer o contrário daquilo que queremos que ele faça.
Eu queria era ver a Marta , ela é linda , linda .Se ele não fosse tão atado , já lhe teria dado uns beijos...Pronto já se zangou e colocou-me agora sentado num banco de jardim na Estrela. Daqui vejo o chapéu da dita cuja Basílica .Aquilo deve magoar o céu...Ter assim uma coisa espetada na pele. E além do mais escreveram-me sempre como sendo de boas maneiras e qualquer escrevido sabe que apontar é feio. Vejo os gansos a fugir dos putos que os querem apanhar. E aquela velhota que atravessa a estrada à pressa para fugir do balão de água que um miúdo já lhe atirou.
Agora estou a andar e vou apanhar o eléctrico. Parece um carrinho de choque a fazer as curvas.
Mas eu não quero estar aqui. Leva-me para a praia .Quero ouvir o mar.
Este tipo às vezes mete-me nojo. Deve pensar que não tenho vontade própria...Olha lá quem és tu para me expores? Alguma vez me perguntas-te se podias mostrar a minha vida para os outros verem?
Não tenho direito à privacidade , ó voyeur de trazer por casa??!! Nem criador és , usas-me sempre para te imaginares em mim dizendo à Marta , o que não lhe consegues tu dizer.
És patético...Aí nessa cadeira rota de pele de vaca pintada de vermelho , em frente a uma escrivaninha pequena demais para que os teus braços caibam ao mesmo tempo. Essas calças de ganga com boca de sino para imitar os primeiros tempos das influências dos Metallica , esse cabelo curtinho porque gostas de ter a cabeça fresquinha e para não teres de pentear de manhã...Essas unhas cortadas rente para não te magoares a jogar basquetebol , essa barriga proeminente pela cerveja onde afogas as mágoas , tentando amar a Marta através de mim , e do que de mim vais criando...Estou mais forte e belo que tu...que morres de amores atrás de uma caneta. Toco-lhe mais eu ,com uma letra , que tu com todo o teu corpo em todos os anos que a conheces .Imitas-me , no pavilhão novo quando entras e lembras-te do que é que eu faria em frente a tanta mulher bonita , e ages de acordo com as tuas expectativas , mas ficas muito além de um reflexo meu , eu que julgas como uma invenção tua , um teu reflexo.
Agora sou eu que te escrevo , apanhei-te na minha rede , e de mais forte que sou ,faço –te a ti , decrépito escritor , a minha personagem literária.

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