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23 de julho de 2007

Umbigo

Ao senhor José Maria Vieira Mendes
(obrigado por não me dar alhos)

Gosto de estar bem no meio do redemoinho . A primeira vez que aceleraram o carrossel , vomitei . Acho que não gostei de ver os pontos que os meus olhos fixavam , fugir e fitarem-me como a miudagem traquina , com a qual às vezes jogo na estrada. Gosto imenso de passar naquelas portas giratórias que giram mais nos filmes , mas por cá alguns hotéis já aderiram à deliciosa modernice. E não sou o único. Alguns amigos meus acompanham-me , e então é que é giro o girar da porta , aos quatro e aos cinco empurrando uma porta , como os marinheiros empurram aquelas coisas muito engraçadas que fazem levantar as âncoras das fragatas.
Mas fecho-me às paixonites ... Não quero a cabeça a andar à roda...
O mais que faço é sonhar com balões e com o Jardim Zoológico e com o sonho que tive quando estive quase a morrer , no dia em que fui dar uma volta de cacilheiro até à outra banda , para ver se enchia a memória de plaquetas e glóbulos vermelhos para dar sangue ao vampiro , e estive quase a morrer porque caí ao malagueiro , e eis que coisa nunca vista , ali no Mar da Palha a água dançou um vórtice para mim , e eu pari uma espiral , que hoje só de me lembrar , acossa-me a ciática.
Entrevistei uma aspirina que ouvi na rádio , e ... não ... não ... isto dá muitas voltas à cabeça...
Quando me masturbo olho avidamente para o espelho , como me observo , para depois sonhar e inventar e escrever.
E faço coisas tão giras com a mão . Todo o meu ivaginário gira à volta (como aquelas portas giratórias que giram mais nos filmes ) das minhas doenças , maleitas incarnadas em solilóquios barrocos e a demagógica e mimada revolucionarite aguda.
Visto revoluções e bonecas com vestidos engraçados , sou a imensa montanha , guardada por montes míopes que se sodomizam com a sua pseudo-cultura , e se assustam com a própria sombra ... e feitos de barro e de pelos de barba mal semeada , ornados de cabelos compridos e recortes de jornais como troféus nas mãos dos aborígenes que lhes povoam as guedelhas ... São os meus ratos.
Falo de tudo como se estivesse de fora . E sou genial.
Venho do genital e vou para o genial , e é muito mais que aquilo que o Bocage faz , respirando para o cano de uma pistola.
Divirto-me imensérrimo com a loucura e com os interruptores disfarçados destas realidades que vou pintando.
O que sempre tenho feito é olhar para o meu umbiguinho e decorá-lo de lago , boca , mistério astronómico , vagina , olho , telescópio ... E faço-o exortanto aos crocodilos , e nenhum dos nossos ídolos é destruído pelos martelos da carneirada.
Mas pistola , pistola ... é o meu dedo , prolixo indicador de vampiro , pois que tudo é sangue e eu vivo fora dos homens para falar deles.
Em honra de quê? Em honra de quem?
Mato-me e faço-me a cada momento em que me escrevo , e único sofrimento a que me abro é o de girar à minha volta , como pião , peão , caravela quinhentista , bebedeiras de azul ... ando às voltas por Lisboa para contar histórias lá na terra , sou veículo de mundos , mas que mundos são estes ?Alternativos enquanto não reais?
É que misturo as coisas e desconfio dos cowboys porque faço muitos filmes .
Mas tudo isto dá muitas voltas à cabeça.
Parece que retiro o sal do banal , mas de que forma o uso para o tempero?
É tão espantoso olhar para o eu helicoidal , e andar à roda...
À volta do meu umbigo.

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